15 abril 2016

Poesias indígenas para conhecer

     Os poemas e poesias indígenas de diferentes etnias sempre acabam trazendo um olhar sobre a natureza e suas realidades culturais.
1 -  Tempo Quebrado
Por Salvino dos Santos Braz - Kanátyo Pataxó


O tempo foi quebrado,
Picado sem dó,
Como um nó
Que prende e amarra. 
Ninguém tem mais tempo,
Pro seu tempo de vida,
O tempo se despedaçou.[...]
O tempo hoje vale dinheiro,
Mas como viverá o sabiá?
O seu tempo vale mais do que dinheiro,
Vale liberdade (...)
 ...
Dá sentido a sua vida
Com uma linda poesia.
Sabiá bico de osso,
O seu canto que eu ouço
Não tem preço,
A sua vida reconheço,
Por isso o meu tempo lhe ofereço
Pra voar, cantar e me alegrar.
Minha amiga sabiá
Tenho medo de lhe perder,
O que será eu e você
Sem o canto?

2 -  Cantos da terra
Por Freddy Chikangana - Wiñay Maílla - Etnia: Yanakuna Mitmac
 
Saramanta takiy nuqapi yakuri samay
Taki punchau ñaupakhina taki
k'ullu sonccohima muyu ima nima huañushca
suttuyhinamicjuchiy pucuycuna.
Saramanta: taki, yaku, samai...
Causay punchau tarpunahuancuna cayna-punchau
trigo parhuayna poccoy ima sisay pachacunapi.

Tradução:

De milho são meus cantos e de água minha essência.
Canto hoje como antes cantaram 
com teimosa semente que renega a morte,
assim como gota que alimenta a fonte.
De milho: cantos, água, essência.
Vivo hoje do plantio de ontem,
como espiga madura que floresce na terra.
 3 - Ay kakyri  tama
Por Márcia Vieira da Silva - Kambeba
 mestra em geografia, escreve poemas, canta, recita e sempre conta para as pessoas a história de seu povo.

Ay kakyri  tama.
Ynua  tama verano y tana rytama.
Ruaia manuta tana cultura imimiua,
Sany may-tini, iapã iapuraxi tanu ritual.

Tradução:

Eu moro na cidade
Esta cidade também é nossa aldeia,
Não apagamos nossa cultura ancestral,
Vem homem branco, vamos dançar nosso ritual.
Nasci na Uka sagrada,
Na mata por tempos vivi,
Na terra dos povos indígenas,
Sou Wayna, filha da mãe Aracy .
Minha casa era feita de palha,
Simples, na aldeia cresci,
Na lembrança que trago agora,
De um lugar que eu nunca esqueci.
Meu canto era bem diferente,
Cantava na língua Tupi,
Hoje, meu canto guerreiro,
Se une aos Kambeba, aos Tembé, aos Guarani.
Hoje, no mundo em que vivo,
Minha selva, em pedra se tornou,
Não tenho a calma de outrora,
Minha rotina também já mudou.
Em convívio com a sociedade,
Minha cara de “índia” não se transformou,
Posso ser quem tu és,
Sem perder a essência que sou,
Mantenho meu ser indígena,
Na minha Identidade,
Falando da importância do meu povo,
Mesmo vivendo na cidade.

4 - “Os índios estão morrendo?”
Por Yolly Sabrina Marques Lima - Taurepang

Não, não estamos apenas morrendo,
Estamos sendo assassinados,
Estamos sendo aterrorizados,
Estamos sendo humilhados…
Todavia o que viemos sofrendo,
Não será em vão.
Pode até estar chovendo,
Ainda sim continuamos lutando,
Ainda sim continuamos marchando,
Ainda sim continuamos cantando,
Ou em meio ao calor horrendo,
Conseguiremos retomar nosso chão!
Muitos continuam indo,
Muitos já estão dormindo,
Muitos que com o coração chorando continuam rindo,
Não de felicidade
Mas sim de força de vontade,
De ver nosso povo à vontade,
Naquilo que sempre foi meu, sempre foi seu…
Nossa terra, nosso chão!

Repito: Não estamos morrendo!
Repito: NÃO! NÃO!

Estamos sobrevivendo fisicamente
E muitos outros apenas in memorian ardente
Não com sede de vingança
Mas com sede de esperança
De que um dia tudo dará certo,
Que por fim, eu espero…

Que todos estejam vivos não apenas na memória,
Mas na história de uma nação que se redimiu
E que como sempre… Renasceu das cinzas,
De um passado ríspido e triste.
Abrindo os olhos para um futuro feliz e bem sucedido!
Mas lembre: Nada é em vão! Sempre há um propósito,
Mesmo que no momento de dor não pareça tão óbvio!.
 5 -  BRASIL TIRA A MÁSCARA!
 Por Yakuy Tupinambá
 Sem história, sem memória, o que pensas que és?
Nega seu próprio sangue, sua verdadeira raiz, em que ainda sonhas?
Vivendo uma quimera, quando ainda era uma nação tão bela!
Guardiã das florestas, dos rios, dos mares e dos lagos,
Das aves e dos animais.
Abrigo de um Povo dono de um Segredo Sagrado,
A essência humana!
Por que a transformação, onde desejas chegar?
Imitando, copiando, deixando se levar…
Por que abandona seus verdadeiros filhos?
Fazendo-nos sangrar, banhando seu solo e suas águas.
Que conquistas são essas feitas através da dor?
Em que se transforma, ou se transformou,
O paraíso da vida.
Não acreditas mais na força e na união dos seus filhos.
Deixou se levar pelos sonhos maculados da inveja.
Ser arrastada pela ganância daqueles que só fizeram explorar.
Tira essa máscara, ela não lhe pertence.
Estamos aqui, resistindo, esperando que você reaja
Que volte a ser forte, a abrigar novamente à vida,
Daqueles que vos ama, verdadeiramente.
Sem querer mais nada,
Além da vida para a vida.

6 - O GUARANI
 Por Maria das Graças Ferreira Graúna - Graça Graúna - Potiguara

Sepé Tiaraju foi um guerreiro 
defendeu com a vida o rincão 
a caça, a pesca e o plantio 
do guarani contra a invasão 

Da real história poucos sabem 
o que se deu no século dezoito. 
Sepé Tiaraju morto em combate 
em nome da cultura do seu povo. 

Junto a mil e quinhentos guaranis 
afirmando que “esta terra já tem dono”. 
na luta contra o mal ele morreu 

Mas contam lá em São Miguel 
quando a noite parece mais pituma 
o guerreiro Sepé vira uma estrela 

(Nordeste do Brasil, agosto de 2009)

7 - Fora do Tempo
Por Renata Machado - Tupinambá
 
Atirei uma pedra em direção ao lar das águas.
Corri nas sombras das florestas por entre os feixes de luz da copa das árvores ancestrais.
Desci por caminhos ocultos na escuridão.

Em meus ouvidos apenas chegavam os sons da pedra,
o cair dos frutos maduros,
amanhecer das plantas e nascer dos pássaros. 

Meu corpo tornou-se uma casca de semente brotando na terra,
minha pele una com o solo,
minha perna tronco e raízes.

Sou um pouco do fluxo dos rios com o sopro do ar e chamas do fogo.
Sou um canto fora do tempo na ausência de pensamento.
Meu ser uma flauta da selva tocada com gotas de chuva.
8 - Pó de Urucun
 Por Zahy Guajajara
 

Da minha pele lateja um sangue vermelho
Quando seca vira pó de urucum
E depois torna-se um corante
Aquele que faz colorir o seu alimento comum
Minha cor
Meu sangue 
Minha lágrima é uma gota de pó
O ar que respiras também é pó 
De urucun
Ai         que dó
Quando bebo
                                Bebo sangue

Aquele sangue da equação
Do urucun que desce
Em forma de menstruação

Parém então
Quando Deus me   fez
Estou certa de que em   vez
De usar o pó da terra
Ele usou o pó de urucun
 9 - Sons e Cores da Natureza
 Por Adão Karai Tataendy Antunes  
Ha verde louro no teu ventre imenso
Guarda a imensidão de seres diferentes 
Um conjunto lindo de vários elementos
Sons e cores vivem harmoniosamente
                                     De onde vem as cores que nas flores vejo
                                    Será que vem do sol,do lua ou dos ventos
                                   Se nem um pintor conhece os tons de cores
                                  Pra pintar as flores com esses pigmentos
O Lua que passa as vezes prateada
Sorrindo baixinho pra esse verde louro
Conhece as riquezas que estão guardadas 
Como um mistério de um grande tesouro
                               Pra cada estação existe um adorno
                              Pra cada evento um som diferente
                             Os sons as cores que ali convivem
                           Desse verde louro são os dependentes
Nem um poeta pode descrever 
Todo mistério de tantas belezas 
Se uns mil anos pudesse viver 
Não veria tudo o que há na NATUREZA.

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