Poesias indígenas para conhecer
Os poemas e poesias indígenas de diferentes etnias sempre acabam
trazendo um olhar sobre a natureza e suas realidades culturais.
1 - Tempo Quebrado
Por Salvino dos Santos Braz - Kanátyo
Pataxó
O tempo foi quebrado,
Picado sem dó,
Como um nó
Que prende e amarra.
Ninguém tem mais tempo,
Pro seu tempo de vida,
O tempo se despedaçou.[...]
O tempo hoje vale dinheiro,
Mas como viverá o sabiá?
O seu tempo vale mais do que
dinheiro,
Vale liberdade (...)
...
Dá sentido a sua vida
Com uma linda poesia.
Sabiá bico de osso,
O seu canto que eu ouço
Não tem preço,
A sua vida reconheço,
Por isso o meu tempo lhe ofereço
Pra voar, cantar e me alegrar.
Minha amiga sabiá
Tenho medo de lhe perder,
O que será eu e você
Sem o canto?
2 - Cantos da terra
Por Freddy Chikangana - Wiñay Maílla
- Etnia: Yanakuna Mitmac
Saramanta takiy nuqapi yakuri
samay
Taki punchau ñaupakhina taki
k'ullu sonccohima muyu ima nima
huañushca
suttuyhinamicjuchiy pucuycuna.
Saramanta: taki, yaku, samai...
Causay punchau tarpunahuancuna
cayna-punchau
trigo parhuayna poccoy ima sisay
pachacunapi.
Tradução:
De milho são meus cantos e de água
minha essência.
Canto hoje como antes cantaram
com teimosa semente que renega a
morte,
assim como gota que alimenta a fonte.
De milho: cantos, água, essência.
Vivo hoje do plantio de ontem,
como espiga madura que floresce na
terra.
3 - Ay kakyri tama
Por Márcia Vieira da Silva - Kambeba
mestra em geografia,
escreve poemas, canta, recita e sempre conta para as pessoas a história de seu
povo.
Ay kakyri tama.
Ynua tama verano y tana rytama.
Ruaia manuta tana cultura imimiua,
Sany may-tini, iapã iapuraxi tanu
ritual.
Tradução:
Eu moro na cidade
Esta cidade também é nossa aldeia,
Não apagamos nossa cultura ancestral,
Vem homem branco, vamos dançar nosso
ritual.
Nasci na Uka sagrada,
Na mata por tempos vivi,
Na terra dos povos indígenas,
Sou Wayna, filha da mãe Aracy .
Minha casa era feita de palha,
Simples, na aldeia cresci,
Na lembrança que trago agora,
De um lugar que eu nunca esqueci.
Meu canto era bem diferente,
Cantava na língua Tupi,
Hoje, meu canto guerreiro,
Se une aos Kambeba, aos Tembé, aos
Guarani.
Hoje, no mundo em que vivo,
Minha selva, em pedra se tornou,
Não tenho a calma de outrora,
Minha rotina também já mudou.
Em convívio com a sociedade,
Minha cara de “índia” não se
transformou,
Posso ser quem tu és,
Sem perder a essência que sou,
Mantenho meu ser indígena,
Na minha Identidade,
Falando da importância do meu povo,
Mesmo vivendo na cidade.
4 - “Os índios estão morrendo?”
Por Yolly Sabrina Marques Lima -
Taurepang
Não, não estamos apenas morrendo,
Estamos sendo assassinados,
Estamos sendo aterrorizados,
Estamos sendo humilhados…
Todavia o que viemos sofrendo,
Não será em vão.
Pode até estar chovendo,
Ainda sim continuamos lutando,
Ainda sim continuamos marchando,
Ainda sim continuamos cantando,
Ou em meio ao calor horrendo,
Conseguiremos retomar nosso chão!
Muitos continuam indo,
Muitos já estão dormindo,
Muitos que com o coração chorando
continuam rindo,
Não de felicidade
Mas sim de força de vontade,
De ver nosso povo à vontade,
Naquilo que sempre foi meu, sempre
foi seu…
Nossa terra, nosso chão!
Repito: Não estamos morrendo!
Repito: NÃO! NÃO!
Estamos sobrevivendo fisicamente
E muitos outros apenas in memorian
ardente
Não com sede de vingança
Mas com sede de esperança
De que um dia tudo dará certo,
Que por fim, eu espero…
Que todos estejam vivos não apenas na
memória,
Mas na história de uma nação que se
redimiu
E que como sempre… Renasceu das
cinzas,
De um passado ríspido e triste.
Abrindo os olhos para um futuro feliz
e bem sucedido!
Mas lembre: Nada é em vão! Sempre há
um propósito,
Mesmo que no momento de dor não
pareça tão óbvio!.
5 -
BRASIL TIRA A MÁSCARA!
Por Yakuy
Tupinambá
Sem história, sem memória, o que
pensas que és?
Nega seu próprio sangue, sua
verdadeira raiz, em que ainda sonhas?
Vivendo uma quimera, quando ainda era
uma nação tão bela!
Guardiã das florestas, dos rios, dos
mares e dos lagos,
Das aves e dos animais.
Abrigo de um Povo dono de um Segredo
Sagrado,
A essência humana!
Por que a transformação, onde desejas
chegar?
Imitando, copiando, deixando se
levar…
Por que abandona seus verdadeiros
filhos?
Fazendo-nos sangrar, banhando seu
solo e suas águas.
Que conquistas são essas feitas
através da dor?
Em que se transforma, ou se
transformou,
O paraíso da vida.
Não acreditas mais na força e na
união dos seus filhos.
Deixou se levar pelos sonhos
maculados da inveja.
Ser arrastada pela ganância daqueles
que só fizeram explorar.
Tira essa máscara, ela não lhe
pertence.
Estamos aqui, resistindo, esperando
que você reaja
Que volte a ser forte, a abrigar
novamente à vida,
Daqueles que vos ama,
verdadeiramente.
Sem querer mais nada,
Além da vida para a vida.
6
- O GUARANI
Por Maria
das Graças Ferreira Graúna - Graça Graúna - Potiguara
Sepé Tiaraju foi um guerreiro
defendeu com a vida o rincão
a caça, a pesca e o plantio
do guarani contra a invasão
Da real história poucos sabem
o que se deu no século dezoito.
Sepé Tiaraju morto em combate
em nome da cultura do seu povo.
Junto a mil e quinhentos
guaranis
afirmando que “esta terra já tem
dono”.
na luta contra o mal ele morreu
Mas contam lá em São Miguel
quando a noite parece mais
pituma
o guerreiro Sepé vira uma
estrela
(Nordeste do Brasil, agosto de 2009)
7 - Fora do Tempo
Por Renata Machado - Tupinambá
Atirei uma pedra em direção ao lar
das águas.
Corri nas sombras das florestas por
entre os feixes de luz da copa das árvores ancestrais.
Desci por caminhos ocultos na
escuridão.
Em meus ouvidos apenas chegavam os
sons da pedra,
o cair dos frutos maduros,
amanhecer das plantas e nascer dos
pássaros.
Meu corpo tornou-se uma casca de
semente brotando na terra,
minha pele una com o solo,
minha perna tronco e raízes.
Sou um pouco do fluxo dos rios com o
sopro do ar e chamas do fogo.
Sou um canto fora do tempo na
ausência de pensamento.
Meu ser uma flauta da selva tocada
com gotas de chuva.
8 - Pó de
Urucun
Por Zahy
Guajajara
Da minha pele lateja um sangue
vermelho
Quando seca vira pó de urucum
E depois torna-se um corante
Aquele que faz colorir o seu alimento
comum
Minha cor
Meu sangue
Minha lágrima é uma gota de pó
O ar que respiras também é pó
De urucun
Ai que dó
Quando bebo
Bebo sangue
Aquele sangue da equação
Do urucun que desce
Em forma de menstruação
Parém então
Quando Deus me fez
Estou certa de que em vez
De usar o pó da terra
Ele usou o pó de urucun
9 - Sons e Cores da Natureza
Por Adão
Karai Tataendy Antunes
Ha verde louro no teu ventre imenso
Guarda a imensidão de seres
diferentes
Um conjunto lindo de vários elementos
Sons e cores vivem harmoniosamente
De onde vem as cores que nas flores vejo
Será que vem do sol,do lua ou dos ventos
Se nem um pintor conhece os tons de cores
Pra pintar as flores com esses pigmentos
O Lua que passa as vezes prateada
Sorrindo baixinho pra esse verde
louro
Conhece as riquezas que estão
guardadas
Como um mistério de um grande tesouro
Pra
cada estação existe um adorno
Pra cada
evento um som diferente
Os sons as
cores que ali convivem
Desse verde louro
são os dependentes
Nem um poeta pode descrever
Todo mistério de tantas belezas
Se uns mil anos pudesse viver
Não veria tudo o que há na NATUREZA.
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