Seu filho precisa da sua ajuda para entender
política e cidadania
Independente do posicionamento ou partido político, estamos em um
momento fértil para falar sobre cidadania, liberdade e respeito com as
crianças. Os jornais, rádios e TVs noticiam a todo momento fatos políticos e
protestos por todo o país. No meio disso tudo, estão as crianças,
observando e absorvendo tudo que a sua volta. Por isso, é necessário a ajuda de um adulto responsável para mediar e
ajudar a entender o que está acontecendo na política. A blogueira Grace
Barbosa, autora do Mãezíssima, reuniu algumas famílias para
contar a experiência de como têm lidado com esse tema. "Essa pode ser
uma excelente oportunidade de formar uma geração mais consciente e correta,
também quando o assunto é política",comenta Grace.
"Tenho certeza que seu filho, mesmo que não faça perguntas
objetivas, também está curioso para entender o que está acontecendo. Aproveite
esse momento fértil para passar conceitos positivos:
*Não use frases de violência;
*Não use xingamentos ao se referir a pessoas contrárias a sua posição
ideológica;
*Fale sobre a necessidade de conviver respeitosamente com todos,
inclusive aqueles que não concordam com você. Ensine sobre respeito ao outro;
*Aja de forma pacífica, mesmo em casa assistindo aos noticiários;
*Tenha paciência para responder aos muitos porquês;
*Mostre esperança e confiança no futuro.
Confira os depoimentos
Ana Luísa Pereira
Minha ideologia é de esquerda. Sempre foi. Hoje não consigo defender
ninguém, a não ser um estado democrático e um judiciário imparcial. Enfim, mas
vejo que as crianças são um reflexo do que se vê em casa e o que eu estou vendo
é só ódio. Sempre amei política e cresci em um ambiente que transpirava
política. Meus filhos escutam sobre política o tempo todo e aqui vão alguns
comentários que eles me contam que seus amigos falam: 'A Dilma é uma baleia, a
Dilma tinha que morrer, a Dilma é uma mulher muito feia, porque seus pais
votaram nela?' Enfim, disso pra pior. Ou seja, realmente precisamos de pais
conscientes para conversar sobre política. Não é uma questão de ódio, é uma
questão de ideologia, de posicionamento, de pesquisa, de reflexão.
Independentemente de ser contra ou a favor, há que se instruir as crianças, e
não pregar o ódio. Minha filha já veio me dizer que sente vergonha por
nós sermos de esquerda, e isso é muito errado. Há realmente que se conversar
sobre política. Mas com consciência e sabedoria.
Cristiane Souza, escritora infantil e empreendedora
Aqui em casa também tenho conversado sobre política com as crianças. A
conversa não tem bem uma pauta, mas criei oportunidades para refletirmos sobre
o fazer política e aí inseri os acontecimentos atuais. Como sou fã de
literatura, especialmente a infantil, começamos a conversa assistindo a contação do livro “Quem manda aqui”,
no canal da "Fafá conta – contadora de histórias". Foi
muito legal ouvir a opinião deles. Assistimos umas quatro vezes porque eles
queriam confirmar os argumentos. Além disso, inspirada por uma matéria e
pesquisa que falava sobre alunos que passavam ou pediam cola, colocavam o nome de amigos nos trabalhos, e vários outros comportamentos não muito legais
acontecidos na escola, conversamos no carro, na volta da escola, sobre
corrupção e omissão, o famoso medo de ser “dedo duro”, de sofrer bullying, intimidações. Sobre coragem, sobre força,
sobre certo e errado. Falamos até sobre Deus. Um deles fez até uma musiquinha!
Mas eu já esqueci. Não existe revolução que não venha de dentro.
Franco Iacomini, articulista econômico, pai e
teólogo
Lá em casa a gente não esconde as coisas da política da
turminha, tentamos explicar da melhor maneira e acho que os meninos são bem
politizados para a idade. O Luca, inclusive, tem algumas posições que são
diferentes das minhas. Mas é legal. Uma coisa que costuma funcionar é comparar
as situações da política com a casa da gente ou com a escola, vale pra
economia também. Pedalada fiscal, por exemplo, é usar para uma coisa
dinheiro que deveria ser usado para outra. Se a gente comprar uma bicicleta com
o dinheiro que estava guardado para pagar a conta da luz, como é que
fica? Vai faltar dinheiro e nós vamos ficar sem luz. Mas pra fazer essas
comparações tem que pensar um pouco antes, planejar, para fazer certo. Se não a
gente corre o risco de dar uma explicação errada ou não ter resposta para uma
pergunta da criança.
Mirussia Remuszka – empreendedora na
Comemore Sempre
Aqui em casa tenho dois meninos alegres e de ouvidos atentos: há uns 15
dias eles começaram a dizer que a Dilma tinha que sair e que eles odiavam o
Lula! Estranhei esse repertório e aprofundei o diálogo. Por que vocês não
gostam, o que aconteceu? Tudo para entender o que eles sabiam do assunto. A
resposta me fez segurar o riso: – "Só falam de Lula e Dilma na televisão.
A gente nem pode mais assistir desenhos!" Expliquei que todos têm direito
de gostar ou não, mas que precisamos assumir nossos erros. As pessoas na rua
estavam muito bravas mas que isso ia passar quando a situação fosse resolvida. E segue o barco!
Luciana Ivanike – Empreendedora na Carinho de Pano
Sou mãe de três
meninas com, respectivamente, dez, cinco e três anos. Desde as
manifestações de 2015 explico para elas, e principalmente para a mais velha,
que estamos exercendo nosso direito de manifestar nosso descontentamento. Tenho
explicado que cada um tem o direito de manifestar se é contra ou a favor e que
precisamos respeitar a opinião do outro.
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