22 novembro 2014

Repensando a bebida na lancheira das crianças

Foto por PhotographyByPaul, Flickr, Licença Creative Commons

     Todos os dias, Joãozinho leva para a escola uma caixinha de bebida longa vida em sua lancheira. O surgimento desse tipo de produto no mercado facilitou a vida da mãe de Joãozinho, pois as embalagens longa vida individuais têm o tamanho perfeito para o lanche da escola.

     Ótimo, não? Hmmm, mais ou menos. Infelizmente, a proliferação de bebidas industrializadas em caixas cartonadas longa vida traz consigo praticidade, mas também baixo valor nutritivo, potenciais problemas de saúde e um alto custo ambiental.

        Três das bebidas encontradas facilmente em caixinhas cartonadas e muito apreciadas pelo público infantil são suco de fruta (e suas variações), bebida à base de soja e água de coco. Todas elas, contudo, apresentam problemas em relação ao valor nutritivo.

     Para serem transformadas em ‘longa vida’, isto é, durarem muito tempo nas prateleiras dos supermercados sem refrigeração, as bebidas precisam passar por um processo de esterilização (normalmente, a ultrapasteurização, isto é, submeter a bebida a altíssima temperatura e logo depois esfriá-la). Isso precisa ser feito para matar bactérias que podem fazer mal à saúde, mas o processo possivelmente mata também boa parte dos nutrientes.

     Além da esterilização, muitos sucos e bebidas de soja têm adição de açúcar, um ingrediente sem valor nutricional e altamente viciante. A água de coco longa vida, por sua vez, contém aditivos necessários para sua conservação (a água de coco de uma marca famosa com sede no Nordeste, por exemplo, contém sacarose e conservador 223). A bebida de soja tem ainda o agravante de ser produzida a partir da leguminosa plantada majoritariamente em larga escala e com sementes trangênicas, cujas consequências para a saúde humana são desconhecidas.

     Ou seja, todas essas três bebidas populares entre as crianças têm desvantagens do ponto de vista nutricional.

      Além disso, há vários problemas associados à embalagem longa vida em si que precisamos considerar. O primeiro desses problemas se refere à saúde de quem toma a bebida. Embalagens cartonadas são forradas com uma camada de plástico interna que evitam que o líquido dissolva o papel. Há cada vez mais evidências de que o plástico libera toxinas no contato com o que está armazenando, isto é, a bebida longa vida. Essas toxinas seriam, consequentemente, ingeridas junto com a bebida, isto é, pelo Joãozinho do início do texto, diariamente.

     Outro problema associado à embalagem cartonada se refere ao custo ambiental da produção e do descarte da mesma. Uma embalagem longa vida é composta por seis camadas, incluindo camadas de plástico (polietileno de baixa densidade), uma camada de papel e uma camada de alumínio, criando uma barreira que impede a entrada de luz, ar, água e microorganismos.

     Essa multiplicidade de camadas dificulta muito a reciclagem da embalagem. Na realidade, a embalagem, tecnicamente, não pode ser reciclada. Uma caixa de bebida longa vida nunca virará outra caixa de bebida, o que caracterizaria o processo como reciclagem verdadeiramente. Ela pode, apesar de ser um processo bem complicado, ser reaproveitada pela indústria para virar outros produtos. Mas isso não é reciclagem. A demanda por matéria-prima virgem para a fabricação de novas caixas longa vida (isto é, papel, alumínio e plástico, todos eles com alto custo ambiental) continua existindo.

     Para mim, o custo ambiental, juntamente com os problemas nutricionais, faz com que o consumo de bebidas em embalagem cartonada não se justifique.

     O que colocar, então, na lancheira da escola? A opção mais óbvia é água geladinha em uma garrafa térmica. Essa opção é saudável, barata, prática e ecológica. Uma alternativa legal é fazer um refresco de uva. As feiras orgânicas e as lojas de produtos naturais costumam vender suco de uva orgânico em garrafas de vidro grandes. Em vez de mandar uma caixinha longa vida de bebida industrializada, que tal diluir um pouco de suco de uva com água e armazenar a bebida em uma garrafinha térmica de aço inox? Algo semelhante pode ser feito com ‘gelo de fruta’. Congele pequenas porções de frutas em formas de gelo. Adicionada à garrafinha térmica, a pedra de ‘gelo de fruta’ derrete até a hora do lanche e deixa a água aromatizada.

     Sim, dá um pouco mais de trabalho do que pegar uma caixinha de suco no armário da cozinha. Mas as opções acima são saborosas e MUITO mais saudáveis dos que as bebidas industrializadas. Além disso, as bebidas em garrafa térmica produzem pouquíssimo lixo. No caso do refresco de uva, por exemplo, a garrafa de vidro que armazena o suco pode ser reciclada de verdade (e não só reaproveitada) infinitas vezes, ao contrário do material da embalagem longa vida.      Em tempo: mesmo o suco natural, feito em casa, deve ser tomado com parcimônia, por conter muita frutose e poucas fibras (o melhor é comer a fruta). Se seu filho leva suco caseiro na lancheira, o ideal é diluir com água. Estudos têm demonstrado que o consumo regular de sucos, mesmo os naturais, pode aumentar o risco de diabetes. Se sua família tem o hábito de beber sucos com frequência, recomendo fortemente a leitura deste post do blog Potencial Gestante, que apresenta uma coletânea de artigos sobre a ingestão de sucos, seus valores nutricionais e as consequências para o nosso organismo.

REFERÊNCIAS E MAIS INFORMAÇÃO:

http://www.treehugger.com/corporate-responsibility/in-what-world-can-you-call-tetra-pak-green.html

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/08/130830_fruta_diabetes_rp.shtml

http://potencialgestante.com.br/por-que-evitar-sucos/

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