29 fevereiro 2012

Reverência pela vida.
 “Sempre amei profundamente a vida. Não, não era apenas a minha vida. Era a vida de todas as coisas. Olhar para os animais e as plantas me enchia de alegria. E eu queria cuidar deles como quem cuida de algo frágil e precioso. Aí o mandamento cristão do amor me parecia pouco exigente. Pedia apenas amor ao próximo. Os cristãos entenderam que esse ‘próximo’ se referia só às pessoas (tanto assim que imaginam que somente elas têm alma...). Eu, ao contrário, penso que todas as coisas que vivem são minhas irmãs. Elas possuem alma. Lagartas que um dia serão borboletas.
         Essa ideia de que apenas as pessoas têm alma, eu acho, é responsável tanto pela crueldade como pelo senso sem limites de importância. Se os animais não têm alma, concluímos que eles são vazios de qualquer valor sagrado. Estão aí só para nos dar prazer. Estão aí para serem usados por nós. Então temos permissão para matar e destruir. Mas não é isso que explica a devastação e a morte por onde quer que passe o homem europeu que se chama de civilizado? Eles se definiram como caçadores: os que vivem a partir da morte. Mas eu queria que fôssemos pastores da vida...
         As coisas vivas não existem só para nós. Elas vivem também para si mesmas e para Deus (...). Cada um, a seu modo, contém ao mesmo tempo a mesma essência divina que nos percorre a todos: a vida. Com isso, perdemos o senso falso da nossa própria importância. Deixamos de ser o centro do universo. Mas o que perdemos em importância, ganhamos em fraternidade, já que não estamos sozinhos. A vida,  é uma grande mãe que nos envolve”.
 Rubem Alves.
“Que a importância esteja no teu olhar, não naquilo que olhas”.

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