CONSCIÊNCIA NEGRA
20 DE
NOVEMBRO, DIA PARA REFLEXÕES E DECISÕES
A lei N.º
10.639, de 9 de janeiro de 2003, incluiu o dia 20 de novembro no calendário
escolar, data em que comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. A mesma
lei também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura
Afro-Brasileira. Com isso, professores devem inserir em seus programas aulas
sobre os seguintes temas: História da África e dos africanos, luta dos negros
no Brasil, cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade
nacional.
Com a implementação dessa lei, o governo brasileiro espera
contribuir para o resgate da contribuição dos povos negros nas áreas social,
econômica e política ao longo da história do país.
A
escolha dessa data não foi por acaso: em 20 de novembro de 1695, Zumbi - líder
do Quilombo dos Palmares- foi morto em uma emboscada na Serra Dois Irmãos, em
Pernambuco, após liderar uma resistência que culminou com o início da
destruição do quilombo Palmares.
Então,
comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra nessa data é uma forma de
homenagear e manter viva em nossa memória essa figura histórica. Não somente a
imagem do líder, como também sua importância na luta pela libertação dos
escravos, concretizada em 1888.
Porém, hoje
as estatísticas sobre os brasileiros ainda espelham desigualdades entre a população
de brancos e a de pretos e pardos. Por isso, é importante conhecermos algumas
informações sobre o assunto.
História do
Dia Nacional da Consciência Negra
Esta data foi estabelecida pelo
projeto lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003. Foi escolhida a data de
20 de novembro, pois foi neste dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi, líder do
Quilombo dos Palmares.
A homenagem
a Zumbi foi mais do que justa, pois este personagem histórico representou a
luta do negro contra a escravidão, no período do Brasil Colonial. Ele morreu em
combate, defendendo seu povo e sua comunidade. Os quilombos representavam uma
resistência ao sistema escravista e também uma forma coletiva de manutenção da
cultura africana aqui no Brasil. Zumbi lutou até a morte por esta cultura e
pela liberdade do seu povo.
Importância da Data
A criação desta data foi importante,
pois serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da
cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. Os negros africanos
colaboraram muito, durante nossa história, nos aspectos políticos, sociais,
gastronômicos e religiosos de nosso país. É um dia que devemos comemorar nas
escolas, nos espaços culturais e em outros locais, valorizando a cultura
afro-brasileira.
A abolição
da escravatura, de forma oficial, só veio em 1888. Porém, os negros sempre
resistiram e lutaram contra a opressão e as injustiças advindas da escravidão.
Vale dizer
também que sempre ocorreu uma valorização dos personagens históricos de cor
branca. Como se a história do Brasil tivesse sido construída somente pelos
europeus e seus descendentes. Imperadores, navegadores, bandeirantes, líderes
militares entre outros foram sempre considerados heróis nacionais. Agora temos
a valorização de um líder negro em nossa história e, esperamos que em breve
outros personagens históricos de origem africana sejam valorizados por nosso
povo e por nossa história. Passos importantes estão sendo tomados neste
sentido, pois nas escolas brasileiras já é obrigatória a inclusão de
disciplinas e conteúdos que visam estudar a história da África e a cultura
afro-brasileira.
O
sincretismo é, sem sombra de dúvida, a marca da cultura do Brasil. Uma cultura
forjada com contribuições das mais diversas etnias africanas, trazidas no
período da escravidão; das nações indígenas que habitavam este território antes
da chegada dos portugueses; dos portugueses e demais europeus que migraram para
este país; de japoneses, chineses, árabes, uma cultura, enfim, que é síntese
das contribuições dos muitos povos que escolheram este território para viver.
Maior ícone
da resistência negra ao escravismo
no Brasil
da resistência negra ao escravismo
no Brasil
Cultura afro-brasileira
O
historiador Francisco Adolfo Varnhagen fez questão de ressaltar a importância
do índio e do negro nos trabalhos historiográficos, por sua contribuição para a
constituição da cultura brasileira. Gilberto Freire, por sua vez, compreendeu a
importância dessa contribuição e, em seu livro Casa grande e senzala, discute
pela primeira vez no Brasil a importância do negro na construção do país.
A riqueza da
contribuição cultural africana na formação da cultura brasileira fica patente
nas manifestações populares no Brasil. Essa contribuição se mostra na religião,
no batuque do samba, na capoeira, na culinária, na moda, na língua; está em
todo arcabouço cultural brasileiro. A esses elementos trazidos pelos negros
escravos e adaptados por eles ao meio que encontraram no Brasil chama-se
"cultura afro-brasileira."
A
contribuição africana na cultura brasileira é importantíssima; só conhecendo os
elementos que a compõem, respeitaremos a riqueza cultural do Brasil e as
diferentes formas de interagir com o meio. A riqueza da humanidade está
exatamente nas muitas formas de ver o mundo; respeitar a diversidade é
respeitar a si próprio.
Racismo na escola
A escola é
responsável pelo processo de socialização infantil no qual se estabelecem
relações com crianças de diferentes núcleos familiares. Esse contato
diversificado poderá fazer da escola o primeiro espaço de vivência das tensões
raciais. A relação estabelecida entre crianças brancas e negras numa sala de
aula pode acontecer de modo tenso, ou seja, segregando, excluindo,
possibilitando que a criança negra adote em alguns momentos uma postura introvertida,
por medo de ser rejeitada ou ridicularizada pelo seu grupo social. O discurso
do opressor pode ser incorporado por algumas crianças de modo maciço, passando
então a se reconhecer dentro dele: "feia, preta, fedorenta, cabelo
duro", iniciando o processo de desvalorização de seus atributos
individuais, que interferem na construção da sua identidade de criança.
A exclusão
simbólica, que poderá ser manifestada pelo discurso do outro, parece tomar
forma a partir da observação do cotidiano escolar. Este poderá ser uma via de
disseminação do preconceito por meio da linguagem, na qual estão contidos
termos pejorativos que em geral desvalorizam a imagem do negro.
O cotidiano
escolar pode demonstrar a (re) apresentação de imagens caricatas de crianças
negras em cartazes ou textos didáticos, assim como os métodos e currículos
aplicados, que parecem em parte atender ao padrão dominante, já que neles
percebemos a falta de visibilidade e reconhecimento dos conteúdos que envolvem
a questão negra.
Essas mensagens
ideológicas tomam uma dimensão mais agravante ao pensarmos em quem são seus
receptores. São crianças em processo de desenvolvimento emocional, cognitivo e
social, que podem incorporar mais facilmente as mensagens com conteúdos
discriminatórios que permeiam as relações sociais, aos quais passam a atender
os interesses da ideologia dominante, que objetiva consolidar a suposta
inferioridade de determinados grupos. Dessa forma, a escola tanto pode ser um
espaço de disseminação quanto um meio eficaz de prevenção e diminuição do
preconceito.
A representação da escola
Em todos os
grupos humanos, é possível observar a utilização de meios pedagógicos como
forma de transmissão do saber, por meio dos quais os sujeitos compartilham
conhecimentos, símbolos e valores. Em sociedades "modernas", criou-se
uma sistematização desse saber, nas quais mediante modelos formais e
centralizados as informações são transmitidas. Acreditava-se que essa seria a
forma viável de adquirir polidez e desenvolver um conhecimento mais
especializado. Esse locus de conhecimento foi denominado Escola, constituindo-se
num sistema aberto que passou a fazer parte da superestrutura social formada
por diversas instituições como: família, igreja, meios de comunicação. O
sistema escolar é organizado para cumprir uma função social que, em geral, está
de acordo com as demandas sociais.
O seu
principal objetivo é formar um sujeito apto a assumir seu espaço na sociedade
capitalista, ou seja, produtivo, submisso, tendo boa interação com o seu grupo
social. Para isso, é necessário manter ativos os controles sociais, que são
formados por regras aplicadas ao cotidiano escolar, "sanando"
qualquer disfunção que venha impedir a efetuação do processo educativo. Para um
controle mais eficaz, utilizam-se recursos que podem variar desde a retaliação
ou punição até a segregação ou marginalização dos grupos considerados
desviantes da norma. Essas regras institucionais operam de modo simbólico,
repercutindo e legitimando outros espaços sociais que habitualmente estão de
acordo com as instâncias de poder (Abramovay, 2002).
A inserção
das crianças nesse espaço é feita, na maioria das vezes, de maneira arbitrária.
Para justificar tal obrigatoriedade, os pais e/ou figuras de autoridade o
definem como via de acesso ao conhecimento de teorias e conceitos que formam a
vida em sociedade, para então possibilitar o ingresso no mercado de trabalho e
poder "ser alguém na vida". Em alguns momentos, os pais atribuem à
escola a função de produzir sujeitos com uma reflexão crítica e uma ação
política transformadora, garantindo o seu exercício pleno de cidadania. Assim,
acredita-se que o espaço institucional "proporcionará" um campo de
crescimento equitativo para todos os que usufruem os seus serviços,
aperfeiçoando suas atribuições pessoais e, a partir de então, propiciará um
acesso à vida em sociedade.
Mas até que
ponto a escola estaria correspondendo a tais atribuições? Qual o tipo de
cidadão que estaria sendo construído nesse espaço? Um dos aspectos que dão
margem a esse tipo de questão seria a observação do método de ensino adotado
pela instituição, o qual parece encontrar-se pautado em um padrão que atende às
necessidades de um grupo dominante; e dentro de uma compreensão monolítica,
desconsideram a pluralidade cultural presente em uma sala de aula. Assim, a
escola poderá ser um espaço de inculcação dos valores dominantes, levando de
modo sutil e eficaz à domesticação dos sujeitos aos interesses capitalistas. A
negação das questões que envolvem o negro na escola poderá contribuir para a
acentuação da exclusão social em outros espaços sociais.
Essa
perspectiva ideologizante da escola vai de encontro às suas propostas de
construção de um sujeito crítico e polido, capaz de modificar a ordem social.
Nesse sentido, a escola poderá ser um meio de manutenção das desigualdades
sociais pelo uso de métodos simbólicos e indiretos de coerção social. A
desconstrução dessas estratégias de dominação pode ser de difícil acesso devido
ao crédito atribuído à escola como detentora do saber e da verdade absoluta,
tornando-se mais fácil a interiorização e consolidação dos valores que
perpetuam as inferioridades sociais.
O lugar do negro na escola
De acordo com dados fornecidos por
órgãos de pesquisas como o Pnad – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios –
é observado um contingente expressivo de uma trajetória escolar difícil, em que
40% das populações negras e pardas são analfabetas, ou seja, possuem menos de
quatro anos de estudo funcional, acompanhado de um baixo rendimento, e índices
de reprovação e evasão maiores do que os das crianças brancas.
Para
compreender esse fato, poderemos pensar em alguns indicadores, tais como: a
necessidade de ingresso no mercado de trabalho de modo precoce para
complementar a renda familiar, ou ainda, a representação da escola, para muitas
crianças, como um referencial de fracasso, já que "não conseguem
aprender", embora isso não seja impedimento meramente cognitivo, mas uma
possível dificuldade de inserção das crianças negras no espaço escolar, por se
sentirem "excluídas" do mesmo; uma exclusão simbólica, já que a
criança tem acesso à matrícula e à sala de aula, mas não é aceita no contexto
mais amplo.
Essa
rejeição vai se tornando perceptível com a observação do cotidiano escolar, que
apresenta imagens caricatas em cartazes ou ausência dos negros em datas
comemorativas, como o Dia das Mães, em geral ilustradas por uma família branca,
o que leva a criança negra a não se reconhecer na mesma. Existe ainda uma
ausência de conteúdos que problematizem a questão do negro nos currículos
escolares, privando as crianças negras de conhecerem a sua história, que vai
além da escravidão. Pode ser ainda possível observar a demonstração de
preconceito proveniente de colegas e professores, que violentam por meio de
insultos a identidade negra.
O cotidiano
escolar vai dando indícios do lugar do negro nesse espaço. Muitas crianças
acabam resignando-se a esse não-reconhecimento, a ponto de se avaliarem de
maneira distorcida, considerando-se incapazes, inferiores e, ao menor sinal de
dificuldade, abandonam o processo escolar.
A
dificuldade de auto-aceitação pode ser decorrente de um possível
comprometimento de sua identidade devido a atribuições negativas provenientes
do seu grupo social. Segundo Oliveira (1994), essa internalização do discurso
alheio ocorre porque a avaliação, antes de ser pessoal, é social. Nossa
identidade é resultado de um processo dialético entre o que é de caráter
individual e cultural, uma produção sócio-histórica, um processo criado e
recriado continuamente. É pelo olhar do outro que me constituo como sujeito. É
a qualidade desse olhar que contribui para o grau de auto-estima da criança.
Para
Vigotsky (1984), o psiquismo humano existe por uma apropriação dos modos e
códigos sociais. Com a internalização, a criança vai tornando seu o que é
compartilhado pela cultura; o discurso social passa a ter um sentido
individual. Mas os referenciais externos dos negros são dilacerantes. A
mensagem transmitida é que, para o negro existir, ele tem de ser branco, ou
seja, para se afirmar como pessoa precisa negar o seu corpo e sua cultura,
enfim, sua etnicidade. O resultado dessa penalização é o desvirtuamento da
identidade individual e coletiva, havendo um silenciamento do preconceito por
parte da criança e do cidadão ao longo da vida.
Nesse
sentido, a escola poderá "silenciar" as crianças negras,
intensificando o sentimento de coisificação ou invisibilidade, que pode gerar
uma angústia paralisante, de modo que seus talentos e habilidades se tornem
comprometidos por não acreditarem nas suas potencialidades, ambicionando pouco
nas suas atividades ocupacionais futuras. Mais adiante, essa experiência leva a
criança a se questionar sobre o que é preciso para ser olhada, reconhecida.
Nesse momento, poderá dar início ao processo de embranquecimento e
auto-exclusão de suas características individuais e étnicas. Tais consequências
na identidade infantil passaram a ser preocupação e foco de estudo.
O preconceito racial na escola
Diversos autores preocuparam-se com a
relação entre racismo e educação, desenvolvendo pesquisas nessa linha. Uma
delas foi realizada por Gusmão (1999), com crianças pobres de periferia urbana
ou do meio rural, e tinha como objetivo verificar de que forma estigmas e
estereótipos se fixam na vida do negro. Para tal, foram analisados desenhos nos
quais foi possível observar como se estrutura o mundo simbólico e de que forma
as crianças olham o mundo e são olhadas por ele. No universo investigado,
incluiu-se também o sistema educacional.
Por meio dos
desenhos, foi possível observar qual a compreensão tida pelos dois mundos:
brancos/negros. O branco foi representado como vinculado ao que é civilizado,
urbano, bem apresentado, sorridente, enquanto o negro seria o inverso: meio
rural, ligado ao trabalho físico, desprovido de dinheiro e de possibilidades. A
imagem do negro é mutilada de atribuições positivas, é representada pelas
crianças como um mundo triste, marcado pela violência e pela distância real e
simbólica entre brancos/negros.
Cada
população parece ter seus lugares bastante delimitados no imaginário coletivo,
transbordando para o convívio social. Algumas crianças mostraram-se hostis
frente a essa postulação, demonstrando a sua indignação contra conteúdos
discriminatórios. Mas, haveria ainda os que se "adaptam" ao discurso
do opressor, percebendo-se como selvagens, sem humanidade, impossibilitados de
protestar contra sua condição por se sentirem amordaçados pela internalização
maciça dos padrões dominantes.
Em outra
pesquisa realizada com crianças de escola pública de Campinas, Oliveira (1994)
investigou como eram estabelecidas as relações entre crianças negras e brancas
em uma sala de aula. Foi observado que os dois grupos se relacionavam de modo
tenso, segregando, excluindo. A criança negra mantinha-se em uma postura
introvertida, recusando-se em muitos momentos a participar das atividades
propostas, com medo de que os outros rissem dela, ou seja, para não ser
rejeitada ou ridicularizada, ela preferia calar sua voz e sua dor. Isso ilustra
o quanto uma situação social pode silenciar as crianças negras, reduzindo-as a
um estado quase de mutismo e invisibilidade em sala de aula, levando-as a
profundo desconforto, intensificado pelo sentimento de não-pertencimento.
Em atividade
proposta em sala de aula, foi solicitado às crianças que falassem sobre si em
uma redação. A criança negra se auto-referia de modo depreciativo,
descrevendo-se a partir do discurso dos seus colegas: "feia, preta,
fedorenta, cabelo duro". Não se sentia desejada, portanto, pelos meninos
como as suas outras colegas que tinham um cabelo grande e liso. A criança negra
poderá ser submetida a uma violência simbólica, manifestada pela ausência da
figura do negro no contexto escolar, ou pela linguagem verbal – insultos e
piadas – proveniente do seu grupo social, demonstrando de modo explícito o
desrespeito dirigido a essa população, aprendido muito cedo pelas crianças brancas.
A criança
negra poderá incorporar esse discurso e sentir-se marginalizada, desvalorizada
e excluída, sendo levada a falso entendimento de que não é merecedora de
respeito ou dignidade, julgando-se sem direitos e possibilidades. Esse
sentimento está pautado pela mensagem transmitida às crianças de que para ser
humanizado é preciso corresponder às expectativas do padrão dominante, ou seja,
ser branco.
Esses
estímulos de branquitude são em geral transmitidos pelo sistema social e, às
vezes, pela família. Tal tipo de ação conduz não apenas à desvalorização do
"eu", mas também acarreta intensa angústia, porque a criança não
consegue corresponder às expectativas. Assim, a identidade da criança negra
passou a ser lesada: ao se voltar para o seu próprio corpo, as crianças
encontram as marcas da exclusão, rejeição e, portanto, insatisfação e vergonha.
A população
negra poderá acabar por negligenciar a sua tradição cultural em prol de uma
postura de embranquecimento que lhe foi imposta como ideal de realização. Esse
posicionamento foi decorrente da internalização de que "embranquecer"
seria o único meio de ter acesso ao respeito e à dignidade. Esse ideal de embranquecimento
faz com que a criança deseje mudar tudo em seu corpo. No discurso de uma das
crianças entrevistadas, Oliveira(1994) salienta uma frase: "Eu queria
dormir e acordar branca do cabelo liso". A fala dessa criança leva a supor
que seria como acordar de um pesadelo, povoado de insatisfação, vergonha e
rejeição. A criança não entende nem é entendida nesse sistema educacional, que
parece reproduzir o padrão hegemônico, estigmatizando a criança negra como
incapaz, rebelde.
Essa postura
é ainda reafirmada pela linguagem não-verbal, quando estudos demonstram que
parece haver uma ausência de contato físico afetivo dos professores para com as
crianças negras, demonstrando a rejeição do seu grupo social e causando-lhes
sofrimento. A sua dor não é reconhecida, havendo uma aparente falta de
acolhimento por parte das pessoas "autorizadas" (educadores), que
silenciam ou se omitem em face de uma situação de discriminação. Tal postura
denuncia a banalização do preconceito e a conivência dos profissionais com ele
(Romão, 2001).
É possível
observar que há uma aparente falta de intervenção por parte dos educadores em
tal aspecto. Alguns fatores que estariam implicados em tais questões seriam: 1
- Os educadores poderiam estar imbuídos de forte impregnação da ideologia
dominante, que oprime e nega tudo aquilo que se distancia do padrão
estabelecido, impossibilitando-os de pensar numa perspectiva multicultural. 2 -
Mitificação da instituição Escola, acreditando que ela seria a detentora de um
suposto saber e, por conseguinte, "dona da verdade", intimidando
alguns educadores a não macular tal imagem, não questionando determinada
postura ou a adoção de determinado material didático, permanecendo a sensação
de mal-estar que não é significada, ou seja, não é falada, dando continuidade
ao silêncio e à cumplicidade com determinadas atitudes. 3 - Falta de preparo
dos professores para lidar com a questão racial em sala de aula, desencadeando
a difusão da discriminação racial. Essa falta de preparo impossibilita a
decodificação e a intervenção do educador em situações que denotem sinais de
preconceito.
Nesse
sentido, o cotidiano escolar poderá revelar uma inclinação para corresponder ao
padrão branco/europeu negligenciando os valores referentes às matrizes
africanas, podendo levar à acentuação do estigma de ser inferior. Essas ações
preconceituosas conduzem a um processo de despersonalização dos caracteres
africanos, o que dificulta e, em alguns casos, inviabiliza a inserção da
criança no sentimento de pertença ao espaço escolar, comprometendo a sua
auto-estima, impossibilitando-a de ter um autoconhecimento individual ou
cultural, pois esses dois níveis estão diretamente ligados a condições
desvalorizadoras atribuídas pelo grupo dominante.
Para Romão
(2001), a reversão desse quadro será possível pelo reconhecimento da escola
como reprodutora das diferenças étnicas, investindo na busca de estratégias que
atendam às necessidades específicas de alunos negros, incentivando-os e
estimulando-os nos níveis cognitivo, cultural e físico. O processo educativo
pode ser uma via de acesso ao resgate da auto-estima, da autonomia e das
imagens distorcidas, pois a escola é ponto de encontro e de embate das
diferenças étnicas, podendo ser instrumento eficaz para diminuir e prevenir o
processo de exclusão social e incorporação do preconceito pelas crianças
negras.
O espaço
institucional poderá proporcionar discussões verticalizadas a respeito das
diferenças presentes, favorecendo o reconhecimento e a valorização da
contribuição africana, dando maior visibilidade aos seus conteúdos até então
negados pela cultura dominante. Esse tipo de ação promoverá um conhecimento de
si e do outro em prol da reconstrução das relações raciais desgastadas pelas
diferenças ou divergências étnicas.
Se, no
Brasil, o trabalhador, apesar de todos os avanços, ganha, no geral, mal, está
cercado pelo desemprego e subemprego, desfruta de uma indigente rede de
proteção social, os grupos vulneráveis são ainda mais pisoteados. Pela medida
dos salários, a mulher, apesar de ter, hoje, escolaridade mais elevada do que
os homens, é ainda vista como um ser inferior. Exatamente como os negros. O Brasil
gosta de se imaginar uma nação sem racismo. Não é o que mostram os números do
mercado de trabalho, a verdadeira prova de quem é valorizado ou não numa
sociedade, via salário ou nível de emprego.
Com olho nas
questões de gênero e raça, o Dieese analisou os salários e nível de emprego das
cinco regiões metropolitanas do país, além do Distrito Federal ( São Paulo,
Salvador, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre). A maior taxa de desemprego
ocorreu em Salvador, apresentada como a capital do orgulho negro: 45% maior do
que a dos brancos. São Paulo não fica muito longe: 41%. Melhor posição está
Distrito Federal: 17%. Tradução: é mais provável um negro do que um branco
ficar desempregado, mesmo que tenha o mesmo nível de escolaridade. Quando se analisam os rendimentos, vemos como
o negro se aproxima da discriminação contra a mulher.
Os brancos
ganham nada menos do que o dobro. Em essência, para o mercado de trabalho dois
negros valem um branco. Na lógica da fragilidade, a hierarquia coloca no topo,
pela ordem, homem e mulher brancos e, depois, homem e mulher negros. A mulher
negra sofre, portanto, por ser mulher e por ser negra. Na fria tradução
comercial, duas e meia mulheres negras equivalem a um homem branco. Esses números da discriminação ajudam a
entender uma das mais devastadoras chagas nacionais: a má distribuição de
renda.
Estatísticas
internacionais costumam colocar o Brasil como um dos campeões em má
distribuição de renda. Os economistas debatem sobre as várias razões para a
vitória brasileira nesse campeonato como, por exemplo, a inflação que corroeu
os salários, a baixa escolaridade, o modelo de industrialização, a
incompetência dos investimentos sociais dos governos, o auxílio aos mais ricos
com dinheiro público, e assim por diante. Em maior ou menor grau, todos esses
fatores devem mesmo pesar. Pouco se comenta, porém, sobre o fator preconceito
como um dos geradores do ciclo vicioso da miséria e, portanto, da má
distribuição de renda. Obviedade: se somarmos mulheres e negros temos a imensa
maioria da população brasileira. Logo, se eles são discriminados no salário e
emprego, acabam por afetar a distribuição de renda.
Se pouco
conseguimos avançar em proteção social do trabalhador no Brasil, conseguimos
menos ainda nas categorias mais vulneráveis como negros, mulheres e,
especialmente, crianças.
Filmes sugeridos
A ÚLTIMA CEIA
Dir. Tomás Gutierrez Alea- 1976
Filme cubano que discute o choque de classes e as bases materiais e ideológicas do processo revolucionário.
Dir. Tomás Gutierrez Alea- 1976
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O FIO DA
MÉMORIA
Dir. Eduardo Coutinho - 1991
Documentário sobre o negro na história brasileira.
Dir. Eduardo Coutinho - 1991
Documentário sobre o negro na história brasileira.
ATLÂNTICO NEGRO: NA ROTA DOS
ORIXÁS
Dir. Renato Barbieri - 1998
Documentário sobre a grande influência africana na religiosidade brasileira.
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Documentário sobre a grande influência africana na religiosidade brasileira.
À ESPERA DE UM MILAGRE
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UMA ONDA NO AR
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UMA BREVE HISTÓRIA DE FUTEBOL
VISTA MINHA PELE
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A COR DA CULTURA
PELÉ ETERNO
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UMA ONDA NO AR
CIDADE DE DEUS
CIDADE DOS HOMENS
A COR PÚRPURA
UMA BREVE HISTÓRIA DE FUTEBOL
VISTA MINHA PELE
OLHOS AZUIS
A COR DA CULTURA
PELÉ ETERNO
LIVROS
A ABOLIÇÃO - Emília Viotti da Costa
Editora UNESP -2008
O livro aborda o processo de luta pela abolição da escravidão no Brasil e desmistifica a imagem da abolição como doação da princesa Isabel em 1888 - não como exigência de um sistema de produção. A autora relata os diversos momentos, personagens e aspectos do processo abolicionista que libertou os brancos do fardo da escravidão e abandonou os negros à sua própria sorte.
Editora UNESP -2008
O livro aborda o processo de luta pela abolição da escravidão no Brasil e desmistifica a imagem da abolição como doação da princesa Isabel em 1888 - não como exigência de um sistema de produção. A autora relata os diversos momentos, personagens e aspectos do processo abolicionista que libertou os brancos do fardo da escravidão e abandonou os negros à sua própria sorte.
DA SENZALA À COLÔNIA - Emília Viotti da Costa
Editora Cia das Letras -1998
Referência fundamental para o desvendamento dos traços constitutivos da nacionalidade. A autora centra sua análise no período em que se dá o trânsito do trabalho escravo para o trabalho livre. Partindo de um exaustivo rastreio de fontes primárias, ela analisa as particularidades do período colonial a partir de suas conexões com a expansão cultural.
Editora Cia das Letras -1998
Referência fundamental para o desvendamento dos traços constitutivos da nacionalidade. A autora centra sua análise no período em que se dá o trânsito do trabalho escravo para o trabalho livre. Partindo de um exaustivo rastreio de fontes primárias, ela analisa as particularidades do período colonial a partir de suas conexões com a expansão cultural.
COROAS DE GLÓRIA, LÁGRIMAS DE SANGUE - Emília
Viotti da Costa
Editora Cia das Letras -1998
A autora reconstrói uma das maiores revoltas de escravos ocorrida na Guiana Inglesa em 1823: escravos que demandam seus direitos, senhores ciosos de seus privilégios, missionários dilacerados entre seus deveres de brancos e suas obrigações de cristãos.
Editora Cia das Letras -1998
A autora reconstrói uma das maiores revoltas de escravos ocorrida na Guiana Inglesa em 1823: escravos que demandam seus direitos, senhores ciosos de seus privilégios, missionários dilacerados entre seus deveres de brancos e suas obrigações de cristãos.
PCNs
Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação - 1ª a 4ª
http://www.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pcn1a4.asp
Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação - 5ª a 8ª séries
http://www.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pcn5a8.asp
Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação - Ensino Médio
http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?
option=content&task=view&id=265&Itemid=255
Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação - Ensino Médio
Orientações complementares
http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?
option=content&task=view&id=408&Itemid=394<br
http://www.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pcn1a4.asp
Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação - 5ª a 8ª séries
http://www.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pcn5a8.asp
Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação - Ensino Médio
http://portal.mec.gov.br/seb/index.php?
option=content&task=view&id=265&Itemid=255
Parâmetros Curriculares Nacionais em Ação - Ensino Médio
Orientações complementares
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option=content&task=view&id=408&Itemid=394<br
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